
Araranguá – A ressocialização de presos é mais que uma ideologia no Presídio Regional de Araranguá. Na prática, pelo menos 58 dos 168 presos caminham para uma mudança na estrutura das vidas, marcadas por violência, envolvimento com drogas e o mundo do crime. Na cadeia, eles aprendem através de convênios com o Núcleo de Estudos Profissionalizantes Kirana Lacerda e com a Escola Agrotécnica de Sombrio a arte da culinária, manicure e pedicure, montagem e manutenção de computadores e a manufatura de redes de pesca. O resultado é surpreendente: além da auto-estima aumentada, presos e presas passam a utilizar os cursos como terapia laboral, e saem da prisão mais preparados para a convivência social e o mercado de trabalho, já que todos os cursos são certificados pelo MEC – Ministério de Educação e Cultura.
Ontem, duas turmas tiveram aulas de culinária e manicure e pedicure no presídio. Na turma da professora do NEP Kirana Lacerda, Valéria de Sá Machado, 16 homens observavam e anotavam explicações sobre como fazer um bolo de milho e outro de laranja.
MANICURE - Na ala feminina, a animação toma conta das 16 detentas, que exibem belas unhas pintadas. Para a professora Lidiane Pereira Matos, também da Kirana Lacerda, a experiência está sendo maravilhosa. Apesar desta ser a primeira vez que ela dá aulas no Presídio, a manicure diz que se ofereceu para trabalhar com as detentas porque acredita na ressocialização: “Elas são mulheres normais, cometeram erros, e se esforçam para melhorar, e eu acredito que elas irão melhorar”, diz, enquanto é aplaudida pelas alunas, que elogiam: “Ela é mais que uma professora, é uma grande amiga”.
Maria de Lourdes Portal, 45, está presa há quatro meses, e diz que a vida melhorou com o início das aulas. Viciada, ela conta que a prisão foi uma ajuda, já que não entra nenhum tipo de drogas, e com isso, ela conquistou a abstenção. Desde que foi presa, a mãe de quatro filhos busca uma alternativa para recuperar a integridade. Encontrou nas aulas da professora Lidiane: “O curso ajuda bastante, e a gente não pensa bobagem enquanto está aqui”. Cozinheira e faxineira fora da cadeia, ela diz que não se interessa muito pela profissão que está aprendendo, mas que sempre é bom saber coisas novas. Lourdes ainda terá muito o que caminhar, já que diz que não é tão boa como a maioria: “Ainda tiro uns bifinhos”, brinca. Mas promete: “Vou ser uma manicure de mão cheia, mesmo que seja pra fazer minhas próprias unhas”.
Há 70 dias, Adriana Maria da Rosa, 35, tem o presídio como endereço. O marido, que era viciado, entregou drogas para ela no momento da abordagem da Polícia, e por isso a mulher caiu: “Não uso nem sou traficante. Sou inocente”, afirma. Por isso, ela espera sair logo da cadeia. Para a diarista mãe de cinco filhos, o curso é uma ótima oportunidade de ganhar dinheiro extra quando sair da cadeia: “To prestando atenção e aprendendo bastante, pra fazer unhas nas casas onde trabalho na faxina”, diz. Ao que parece, ela vai conseguir, já que o trabalho da moça foi muito elogiado pelas colegas.
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